quinta-feira, 12 de março de 2009

Em nome do pai, do filho da p*...




Trago de volta para pauta de discussões as peripécias da igreja católica. Sim, mais temas polêmicos! E foram dois eventos particulares nesta semana que me chamaram a atenção: as declarações do Dom Dedé no caso da menina de 9 anos abusada pelo padrasto e o artigo do jornal do vaticano L’Osservatore Romano em homenagem ao dia das mulheres. Vamos começar pelo primeiro.

Para quem não está familiarizado com a história envolvendo Dom Dedé, o que o ocorreu foi o seguinte: uma menina de 9 anos foi abusada pelo padrasto e engravidou, de gêmeos. A garota, além de ter 9 anos de idade, não tinha uma saúde boa, provável resultado de má nutrição na infância, o que apontava para uma gravidez de muito risco. A mãe da menina a levou para fazer um aborto e, após o aborto ter sido feito, Dom Dedé excomungou toda a equipe cirúrgica e médica que ajudou a menina. Detalhe: ele não excomungou o padrasto estuprador, pois segundo ele, o pecado pior foi dos médicos (assassinato).Dentre muitas declarações imbecis o tal Dom Dedé afirmou coisas como “aborto é assassinato, não podemos acabar com duas vidas para salvar outra, todas as vidas são igualmente importantes”. Bom, me recorreu o seguinte pensamento: temos dados estatísticos que nos levam a crer que certos tipos de gravidez são de risco e que, muito provavelmente, a menina, assim como os gêmeos, morreriam durante a gravidez. Esse tipo de argumento não pode ser usado pela igreja porque a ciência não é obra de Deus (o capeta que deve ter criado a ciência, medicina e todas essas coisas que tanto atrapalham o nosso dia a dia), mas o padrasto abusar da menina sim, isso sim faz parte dos planos divinos. De alguma forma deturpada de entendimento da realidade a menina estaria encarando os planos de Deus, sendo abusada pelo padrasto doente, e não poderia interferir no mesmo fazendo um aborto. Eu gostaria de entender o que se passa na cabeça das pessoas que corroboram com esse tipo de pensamento arcaico e oblíquo. “Ah, mas Deus tem um plano maior para ela! Depois do sofrimento ela será recompensada!”. Não é apenas um fato estatístico de que coisas boas e ruins acontecem intercaladamente, mas sim planos de Deus! Ciência não, crendice sim! Hmmm, então se a gente n seguir o plano de Deus a gente vai sofrer eternamente e nossa vivência aqui na Terra vai virar o caos... segundo acreditam. Se fosse assim era pra eu estar ardendo no meu sofrimento e agonia pelas heresias que divulgo aos quatro ventos do planeta. Mas pra que lógica se temos religião?!

Aproveitando o tema eu vou falar brevemente sobre aborto também (hoje n vai faltar farpa pra ninguém, hahaha). Assassinato... é a palavra que ta na boca da elite conservadora religiosa que vai contra a idéia do aborto. Assassinato implica em terminar uma vida de forma proposital pelas mãos de terceiros. E vida, o que significa vida? Não vamos nos ater ao conceito biológico da palavra, pois o mesmo é muito amplo. O conceito de vida para um ser humano é um conceito que vai fundo em indagações filosóficas. Vida implica em entender e responder a uma realidade. Vida implica em ação e reação entre agente e estrutura ou entre agentes. Vida é o que nos determina como seres únicos e pensantes, racionais e capazes de decisões embasadas.

Um bebê em gestação só começa a desenvolver suas capacidades sensoriais a partir do segundo mês de gravidez, ou seja, é aí que ele começa a perceber o mundo. Até então ele é apenas um organismo em funcionamento, como uma planta. O que torna os humanos distintos dessa definição de vida biológica é justamente nossa capacidade de entender a realidade e reagir a isso de forma intencional e objetiva. Falar em assassinato até o segundo mês de gestação, na minha opinião, é forçar muito a barra para uma visão extremista e embaçada que a religião tem sobre o mundo. O aborto até esse período seria apenas o término de um organismo em funcionamento, que não reage à realidade e ainda não captura a dinâmica que o envolve. Tudo bem, é uma visão e fria e existe muita coisa por trás disso, eu sei. Além dessa visão fria existe toda a situação que se constroem no mundo fora do útero da gestante. O significado que se atribui à formulação de uma vida dentro de uma pessoa, etc. Por esses fatores o acompanhamento psicológico da gestante e dos envolvidos na história é necessário. Mas na visão do Dom Pateta (Dedé) e de outros zumbis da igreja o melhor seria uma menina de 9 anos passar por uma gestação de risco e, caso tudo desse certo (remotíssima possibilidade), dar a luz aos gêmeos de seu padrasto. E, obviamente, na cabeça desses ignóbeis, esses gêmeos seriam criados num ambiente de amor e conforto com direito a toda infra-estrutura que uma criança merece. Aham... É assim que o mundo funciona.

Bom, vamos partir para o segundo tema da semana: o jornalzinho do Vaticano. Título do artigo? "A Máquina de lavar e a liberação das mulheres --ponha detergente, feche a tampa e relaxe". Genial. O artigo defende que a máquina de lavar fez mais pela liberação das mulheres do que qualquer outra coisa. Claro, as mulheres terem espaço no mercado de trabalho não significou nada mesmo. Muito menos a pílula contraceptiva, que evita gravidez indesejada. Pra entender essa colocação brilhante do vaticano me pus a pensar. A única forma de esse pensamento fazer sentido é se tomarmos como base o princípio de que a função natural da mulher, pela vontade de Deus, é de ficar em casa cumprindo suas tarefas do lar. Dessa forma, sim, a máquina de lavar foi uma grande ajuda às mulheres.

Mas se nós quisermos realmente usar os nossos cérebros, logo perceberemos que mulheres não foram criadas para ficar enfurnadas em cozinhas e faxinas de banheiros. Aliás, de acordo com o que acredito, não fomos criados para nada, não há propósito na criação. Existe apenas o significado que nós mesmos atribuímos à nossa realidade. Dessa forma, qualquer ser é livre para traçar qualquer caminho para sua vida, construir sua própria realidade. Já a igreja parece acreditar em um plano restrito de obediência e retidão cega miradas no além. Ou seja: viva, obedeça e morra esperando que vai ter algo depois. Deus quer assim. Então, mulheres, acordem! Não vivam acreditando em servidão e cegueira da mente (a não ser que queiram pegar uma cerveja bem gelada pra gente ali na geladeira e fritar uma calabresa pra gente petiscar... hahahah brincadeira). Aliás, não só mulheres, todos os seres humanos lendo isso! Usem vossos cérebros, repudiem uma visão torta e distorcida da sua própria realidade. Vivam por si mesmos, criem uma vida construtiva para si e para todos ao seu redor!

E para fechar gostaria de dar meus pêsames aos que ainda acreditam numa doutrina quase fascista que são as religiões cristãs. Para os que não acreditam, eu os concedo meus sinceros cumprimentos e me gratifico em saber que ainda existem mentes pensantes no mundo.


Danda.