segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O Rush vem aí...


...olê olê olá! É isso mesmo, todos já sabem e nós também, mas vale a pena bradar isso várias e várias vezes. Como um fã de progressivo, e não só isso, como fã de boa música, é impossível não ficar ansioso com a segunda vinda do power trio mais influente da história da música. Muitos contestam tais afirmações, mas nós, do Revolução da Razão Pura, não escondemos nossa admiração pela banda canadense.

Anyways, hoje o post é curto e vai servir pra colocar o blog na ativa novamente. E como nessa nova turnê o Rush está tocando um de seus maiores discos na íntegra, o Moving Pictures, nós resolvemos disponibiliza-lo aos nossos leitores. Divirtam-se e logo teremos mais atualizações.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

WTF!?




O apedrejamento (ou lapidação) foi adotado pelo sistema judiciário do Irã em 1983

Legislação

O artigo 104 do Código Penal Iraniano estipula que as pedras usadas para a execução não "deveriam ser nem grandes o bastante para matar a pesseoa em um ou dois ataques nem devem ser pequenas o bastante que não possas ser definidas como pedras".

Julgamento

De acordo com o artigo 74 do mesmo Código, o adultério, se passível de açoite ou de apedrejamento, deve ser provado pelo testemunho de quatro homens justos ou de três homens justos e duas mulheres justas.

Execução

A preparação

As mulheres sentenciadas têm as mãos presas às costas. Depois, são cobertas por um lençol branco, da cabeça aos pés, antes de serem enterradas até a cintura. O fosso é então preenchido de terra, de forma que a condenada fique apenas com o tórax descoberto.

A escolha das pedras

As pedras escolhidas são grandes o suficiente para infligir dor, mas não o bastante para matar o condenado imediatamente.

Os executores

Os próprios moradores da comunidade sentenciada são convidados a participar do ritual de apedrejamento. As autoridades do governo fornecem as pedras. Algumas vezes até mesmo crianças lançam as pedras. Ainda que muitos moradores se recusem a fazer parte da execução, o governo envia simpatizantes para exercerem o papel.


terça-feira, 8 de junho de 2010

O Sequestro Moral Religioso





Como o texto ficou um pouco grande, disponibilizamos em pdf: Download

Antes de iniciar a exposição de idéias que irá caracterizar esse texto, acho cabível esclarecer o motivo do tema abordado. Cada dia mais nos deparamos com uma tendência “evangelizadora” da sociedade. Apesar de estarmos em uma era de colapso moral, podemos observar uma ascensão grandiosa de temas religiosos no nosso dia a dia. Não só isso, vemos a ascensão da própria religião, pois a cada minuto surge uma nova. Além disso, o espaço de assuntos religiosos na mídia é cada vez maior. Canais de televisão religiosos, cultos sendo transmitidos ao vivo, guias de espiritualidade, etc. Entre os homens mais poderosos do Brasil e do mundo estão líderes religiosos e líderes políticos que são religiosos. Por isso, é bem cabível tratarmos do assunto de uma forma mais crítica e embasada. Mas devemos nos perguntar primeiro: o que é religião? Como se forma uma religião? Quais os conceitos básicos de uma religião? Bom, são perguntas básicas que TODOS deveriam fazer antes de herdar a bandeira moral que é passada de geração para geração dentro de qualquer sociedade.

Sem perdermos tempo com etimologia e outrasdefinições que não nos serão úteis, vamos analisar o conceito de religião diretamente. Basicamente o que se tem quando a palavra religião aparece é algo... desastroso, na verdade. Mas além disso, podemos dizer que religião tem intrínseca relação com o conceito de moral. A moral é um conceito capcioso e sempre acaba confundido com ética, mas isso não será abordado nesse texto. A moral, em termos simples, é algo relativo aos costumes de um conjunto de indivíduos, ou seja, um conjunto de ações, e valores atribuídos a essas ações, que são aceitos e estabelecidos entre esses indivíduos. Sendo essa moral institucionalizada socialmente, nós passamos a resguardar um conjunto de valores atribuídos aos tais costumes aceitos, e esses valores é queconstituem outra grande parte da religião. Ou seja, temos moral e valores como partes essenciais do que chamamos religião. Qualquer religião pode ser definida pelos seus rituais tradicionais e pela sua própria definição do que é certo e errado.

Bem, até agora estamos indo bem, pois algo que tem tradição em seus costumes e nos diz o que é certo e errado parece ser bem interessante. Mas a coisa não é tão bacana quanto parece, pois essa moral não é tão afiada e, muito menos, pensada. O tal “certo e errado” é bem tendencioso, mas o pior de tudo nem é isso... É quando entra a metafísica, as explicações sobrenaturais de eventos simples, ou, como eu gosto de chamar, os contos de fadas (pode chamar como preferir). Algo que é quase patético, se for encarado com a devida seriedade. Um grande truque das religiões é tornar coisas mundanas em coisas sagradas, mágicas ou qualquer tipo de aberração especial. Um copo, um animal, um dia da semana ou até sua roupa íntima podem ser facilmente transformados em objetos ou conceitos mágicos. Por exemplo, o cálice sagrado do catolicismo, as vacas maternais do hinduísmo, o shabat judaico ou a bizarra garment dos mórmons. Coisas simples que viraram brinquedos de uma divertida gincana de faz-de-conta. Além disso, religiões prometem vida após a morte, justiça divina, figuras mágicas, histórias alegóricas e muito mais. Para qualquer pessoa racional são coisas, no mínimo, duvidosas, e hilárias... Pois, aparentemente, mulheres foram criadas a partir de uma costela, e existem idiotas capazes de lerem novos testamentos de Jesus Cristo a partir de pedras mágicas e placas douradas achadas nos Estados Unidos (pra quem não entendeu, calma que será tudo explicado adiante). Acho que a história do João e o Pé de Feijão poderia facilmente ser encaixada no meio desses outros contos de fadas. Já tem até vilão intergaláctico no meio dessas histórias de religiões, mas já chegaremos lá.

Antes de começarmos os contos de fadas e histórias bizarras que são proclamadas como verdades divinas, gostaria de levantar um ponto interessante, que é o fato de seres humanos terem uma pré-disposição a acreditar em algo sobrenatural. Pela evidência histórica e evolutiva do ser humano, nós realmente temos guardado um passado de crenças infundadas. Os Maias acreditavam em deuses que representavam fenômenos da natureza, os Egípcios antigos acreditavam em faraós mágicos, os Persas já tinham um deus onisciente e criador do mundo, os Gregos tinham sua complexa mitologia, etc. Então, baseados em fatos, sabemos que no princípio das civilizações foram criados deuses e explicações mirabolantes sobre a realidade. Olhando um pouco mais a afundo podemos ver que esses deuses existiam, principalmente, para explicar fenômenos da natureza e acontecimentos do acaso. Grande parte dessas civilizações atribuía o sucesso de suas colheitas aos deuses, assim como a bênção de um “casamento”, ou triunfo de uma caçada. Essas civilizações viam fatos da realidade se intercalarem entre sucesso e fracasso e atribuíram um caráter metafísico a essa mudança de realidade, e a partir disso tentaram obter controle dessas situações. E qual a única forma que eles teriam de controlar algo do qual eles não tinham conhecimento? Tentando agradar aos supostos deuses que acreditavam serem os grandes maestros da natureza, culminando em sacrifícios, construção de monumentos, fantasias, orações, etc. Porém, milhares de anos depois, já somos capazes de fazer fogo, plantações prósperas, prédios, pontes, manipular geneticamente certos alimentos, explorar o espaço sideral, curar inúmeras doenças, e mesmo assim parece que nada disso teve efeito nas antigas crenças e mitologias. Já somos capazes de explicar e controlar todos esses eventos e, mesmo assim, ainda continuamos a acreditar em explicações metafísicas. Incongruente? No Brasil, o Datafolha fez uma pesquisa este ano e constatou que um em cada quatro brasileiros acreditam no mito da criação divina da bíblia, ou seja, eles acreditam que a Terra tenha menos de 10 mil anos e que Darwinismo é uma balela. Obviamente os dados variam de acordo com o nível de instrução dos entrevistados, quanto maior o grau de estudo maior a porcentagem de pessoas que acreditam na evolução pura e simplesmente. Alguém pode argumentar que isso é no Brasil, e que realmente o nível de instrução das pessoas atrapalha em pesquisas assim. Mas será só isso? Em fevereiro de 2009 a Gallup Pesquisas realizou uma enquete com americanos de 18 anos ou mais sobre o mesmo tema. Constatou que, também por lá, um em cada quatro americanos acreditam no mesmo mito. De dados assim podemos constatar que as pessoas, mesmo com evidências empíricas e científicas, têm uma tendência a refutar o raciocínio lógico que poderia acabar com suas crenças no além. Como já falado, essa tendência à imbecilidade diminui conforme o nível de instrução, e alguns estudos apresentam dados que medem o nível de religiosidade nas nações. Obviamente as nações menos desenvolvidas são as que apresentam maior massa religiosa. Exemplo disso foi um estudo alemão feito em 2008, que constatou que 96% dos brasileiros são religiosos, sendo que 72% deles são altamente religiosos. Abaixo de nós estão apenas Guatemala e Nigéria. Bom, então podemos constar que quanto maior o nível de instrução menor o nível de religiosidade, o que deixa a religião em maus lençóis, pois a expectativa geral é de que umdia todos terão acesso à educação. Mas também podemos concordar com a conclusão de que mesmo com os avanços da ciência as pessoas insistem em manter sua fé. Um grande mistério que será abordado mais a frente.

Mas e o outro lado da história? E se formos conversar com um católico praticante sobre o absurdo de considerarem o mito criacionista como verdade? Essa hora é que aparecem os cristãos moderninhos e mais liberais, pois oBrasil tem pouca tradição em radicalismoreligioso em comparação a outros países, e os moderninhos liberais dizem que o criacionismo como verdade é radicalismo da ala ortodoxa, e que deve ser lido e interpretado somente como uma fábula inspiradora, que ali não são relatos de fatos históricos. Legal, até porque na própria bíblia que seguro em minhas mãos neste momento existe uma introdução à leitura, e, mais especificamente, existe uma introdução à leitura do antigo testamento que diz “Não se trata de um verdadeiro livro de história (ao menos no sentido que entendemos hoje de história), nem tampouco de um manual de história natural com a finalidade de expor as origens do mundo e da humanidade”. Então, basicamente existe uma tendência a concordar que o criacionismo é uma fábula ilustrativa de como deus criou o mundo (apesar dos 25% da população que acreditam ser verdade)... Tá, mas por que na mesma parte introdutória da bíblia tem escrito assim “Desde Adão até o dilúvio terão transcorrido 1.656 anos, segundo a bíblia hebraica, e 2.262 anos, segundo a versão grega dos Setenta”? Até onde eu sei, fábulas não têm localização na linha de tempo real, justamente por não serem reais! Imagino se toda vez que eu for contar a história da Branca de Neve eu deva, em vez de “há muito tempo trás”, dizer que foi entre o século XIII e XIV, porque faz mais sentido... Não vejo muito senso nisso. E tem outra questãoimpregnada nessa discussão, tudo bem de Adão e Eva serem uma fábula, mas os milagres, o dilúvio, o mar Vermelho abrindo e outros absurdos são verdades? E os 10 mandamentos, como devem ser vistos? Cito esses exemplos pois são todos do antigo testamento. Não só isso, entre os tais absurdos está a ordem divina de que o homem não deve trabalhar aos sábados, pois este é o sétimo dia da semana, dia em que o deus todo poderoso tirou para descansar, além de apologia à escravidão, à servidão da mulher e à pena de morte. Tudo mencionado aqui está claramente escrito no livro do Êxodo e Gênese, nãoestou tirando nada de contexto e nem distorcendo informações desencontradas. (Inclusive sugiro aos leitores que leiam esses dois livros da bíblia). Tudo bem, alguns dizem que isso é coisa do antigo testamento e que no novo testamento as coisas foram diferentes. Inclusive os “sagrados” dez mandamentos foram aperfeiçoados por Jesus no livro de Mateus, já no novo testamento, como, por exemplo, a questão da pena de morte. Porém, questões como escravidão, submissão da mulher, folga aos sábados nem foram mencionadas. Aonde está a linha entre o que seinterpreta como historia da carochinha e o que foi real? Onde está linha que separa fábula de verdadeiros ensinamentos? As pessoas podem deliberadamente escolher a forma em que a bíblia é mais conveniente pra eles? Se as pessoas ainda escolhessem entre os livros inteiros, como “não acredito no livro de Mateus, mas nos outros sim”, mas nem isso acontece, as pessoas escolhem partes da história para acreditar. É bagunçado assim? Não acho isso uma boa idéia porque, entre vários desdobramentos bizarros existe sempre a grande possibilidade de uma guerra religiosa, que se sustenta justamente em visões diferentes sobre livros sagrados. Nessa história ridícula mesmo de antigo testamento é que surgiu a lombra de povo escolhido, que seriam os tais israelitas. Moisés menciona isso várias vezes no livro do Êxodos, e é respaldado por deus que diz ser o deus dos hebreus e israelitas. De passagens com tais menções foi que os malucos do Oriente Médio tiram idéias geniais que resultaram em Faixa de Gaza, guerra e envolvimento da ONU. Mas, para outro grupo de idiotas existe o novo testamento que diz que os povos do mundo inteiro serão abençoados, e não somente os israelitas. Por questões idiotas como essa que acabam se misturando com política é que surge a matança e toda essa palhaçada que vemos.

Aliás, já que tocamos no assunto do cristianismo, gostaria de abrir uma discussão bem interessante sobre as origens da bíblia. Como foi falado no início do texto, o ser humano tem uma tendência a acreditar em algo metafísico desde muito antigamente. E acho que a maioria dos leitores sabe que a história da bíblia se inicia no Egito, quando o alucinado do Moisés resolve libertar o povo escolhido. Então que resolvi pesquisar sobre a grande civilização egípcia e descobrir se ela tem algo a ver com tudo isso. Descobri, acreditem se quiserem, que existem similaridades bem interessantes entre religiões “modernas” e as crenças dos egípcios. Mas como era a religião egípcia? Bom, na verdade, não existe uma religião egípcia, existem várias.

Como o Egito foi um império que foi se expandindo e agregando novos povos, é natural que houvesse diferentes crenças entre esses povos. Mas, conforme esses povos foram sendo conquistados ou agregados ao grandeimpério, essas crenças foram sendo modificadas e moldadas para servirem melhor às novas conjunturas políticas. Não podemos esquecer que estamos falando de muito tempo antes de Cristo. Para se ter uma idéia, os primeiros amuletos religiosos achados no Egito datam 3.100 anos A.C. E, conforme esse império se expandiu, passou a ser notada uma separação das diferentes manifestações religiosas. Estudiosos separam essas religiões em sacerdotal, funerária, popular e estatal, sendo que podemos fazer uma ligação direta dessas vertentes com o nosso tempo atual:

Sacerdotal – era a parte da doutrina exercida pelos sacerdotes, que era dedicada a explicar as coisas do mundo, tinha uma essência mais filosófica. Também se dedicava aos atos caridosos. (Podemos ver claramente um resquício disso na doutrina franciscana do catolicismo, ou até mesmo a dos monges budistas, etc)

Funerária – ligada aos fatos da morte, criava explicações mirabolantes sobre o futuro de uma alma, instituía rituais de passagem e dava esperança da vida após morte aos sacerdotes e faraós. (Esse é um traço de quase todas as religiões atuais.)

Popular – lidava com fatos cotidianos e mundanos, como os perigos do dia-a-dia. Tentava criar remédios e poções para atenuar os perigos da vida, como mordidas de cobra (que era um grande problema na época) e acidentes de trabalho. (É um traço que se acentua fortemente em religiões de origem africana, como o candomblé e umbanda. Também vemos um forte apelo a esse lado vindo de novas religiões que prometem curas absurdas de graves doenças.)

Estatal – essa só queria saber de grana. Templos gigantescos, muito ouro, muita arrecadação tributária do governo e muito trabalho dicado à construção dos monumentos e estátuas de cunho religioso. (Não muito estranho atualmente, basta olharmos para a Igreja Universal, Edir Macedo, Vaticano, bancada político-religiosa, que acharemos incríveis semelhanças)

Mas além desses aspectos, existiam outros que eram bem similares aos das futuras religiões. O ritual de passagem para o pós-morte, a famosa mumificação, era uma maneira de purificar os corpos para que eles estivessem dignos e aptos a adentrar em um mundo superior. Eles acreditavam em um mito de criação absurdo, de o mundo ter surgido, basicamente, de um grande lamaçal, e também acreditavam que a serpente era um animal maldito (acho que Adão e Eva concordam com isso). Mas a maior coincidência de todas é a história de Osíris, que nasceu de um deus, viveu entre os homens, ensinou compaixão e acabou assassinado. (Se eu fosse ele eu processava os escritores da bíblia cristã por plágio). Além disso existem similaridades no jargão utilizado, na conjuntura histórica e vários outros aspectos.

Ainda dentro do assunto de bíblia, gostaria de levantar outro ponto que é a história da própria bíblia. Não só pelas incongruências temporais de quem escreveu, mas pelos textos escolhidos para fazerem parte ou não dos evangelhos. Todos devem conhecer os apócrifos, que são os textos que não entraram pra bíblia católica, mas será que todos sabem como isso foi decidido?

“As versões sobre como se deu a separaçãoentre os evangelhos canônicos e apócrifos, durante o Concílio de Nicéia no ano 325 D.C, são também singulares. Uma das versões diz que estando os bispos em oração, os evangelhos inspirados foram depositar-se no altar por si só !!! ... Uma outra versão informa que todos os evangelhos foram colocados por sobre o altar, e os apócrifos caíram no chão... Uma terceira versão afirma que o Espírito Santo entrou no recinto do Concílio em forma de pomba, através de uma vidraça (sem quebrá-la), e foi pousando no ombro direito de cada bispo, cochichando nos ouvidos deles os evangelhos inspirados...”[6]

Ainda, nessa primeira década do século XXI, um assunto muito curioso foi tratado pela Igreja Católica. LIMBO. Explica-se, rapidamente, para os não familiarizados. Limbo é um lugar para onde vão as pessoas (é melhor alma, né?) que não foram redimidas, por meio do batismo, do pecado original advindas do casal mais famoso do mundo. Dizem que é um lugar em que não podemos ver a imagem de deus e nem degustarmos da paz e felicidade supremas e eternas. Isto é, pro céu elas não vão! Pra tal lugar vão as crianças não batizadas que morreram prematuramente, por exemplo, assim como os que viveram antes de cristo.. Para pais católicos isso deve ser horrível! Bom, então por volta de 2006 o Vaticano revisa a situação do limbo com o intuito de bani-lo[7]. Uma comissão de 30 membros, chamada Comissão Teológica Internacional, reuniu-se a fim de estudar tal procedimento. Sob a argumentação de o limbo ser uma mera hipótese – como se o resto tudo fosse verdade -, exibiram um documento de 41 páginas entitulado “The holpe of salvation for infants who die without being baptized”[8]. Não consegui ler o documento na íntegra, e acho que nem o papa conseguiu também, mas ele gira em torno da comprovação da bondade de deus pela leitura, claro, da bíblia, e o cuidado em tentar não se contradizer quando o assunto é salvação em cristo. O ponto mais interessante é que um lugar fictício deixou de “existir”. E isso porque foi considerado como uma hipótese. Então as almas ganharam um ticket de transferência do limbo para o céu? E o melhor, sem passar pelo purgatório! Agora os pais podem ficar aliviados, já que agora podem ter certeza que os filhos desfrutam da presença de deus.

Legal, não é? Aposto que poucos sabiam disso. Quanto mais se pesquisa mais coisas ridículas como essas aparecem. E não é exclusividade do catolicismo. Hoje vai sobrar lenha pra todo mundo.

Vamos ver outras religiões. Mantendo-nos dentro do cristianismo podemos já partir para o brilhantismo dos mórmons (alguns vão questionar a classificação dos mórmons como cristãos, mas pra mim, na verdade, não faz a menor diferença). Alguém sabe da história dessa galera? Bom, então senta que lá vem história (das boas). Tudo começou com um figura norte-americano chamado Joseph Smith Jr. Esse aí fez a festa, já foi caçado por escândalo financeiro, fracassou na tentativa de se estabelecer com seus seguidores em dois estados diferentes dos EUA e tentou instituir a poligamia na religião. É, o cara tocava o rock'n roll na parada. Mas isso é detalhe, o importante mesmo é que antes disso tudo ele tava confuso e não sabia qual religião seguir. Daí ele inventou de ir pro meio do mato rezar e esperar pela sabedoria divina atingi-lo. Eis que ele viu a luz, e a alucinação dele o mandou constituir uma nova igreja (que idéia genial, quem pensaria nisso?! Só deus mesmo...), pois as igrejas que existiam estavam corrompidas, depravadas e tudo de péssimo que há no mundo. Nessas alucinações foi falado a ele que existiam partes das escrituras bíblicas enterradas nos EUA, e que Jesus Cristo teria vivido nos EUA com alguns apóstolos logo após sua ressurreição (segura pra não rir que a parte boa tá chegando). Então, a luz divina mostrou a ele onde estavam essas escrituras, que eram páginas de ouro escritas em algum tipo de código secreto das alucinações divinas. Para que ele pudesse entendê-las, Joseph Smith deveria usar as pedras mágicas da revelação (seers stones). Ou seja, bastava ele colocar essas pedras por cima das páginas de ouro que ele conseguiria entender tudo que estava escrito. Para isso, ele buscou a ajuda de Martin Harris, que, por coincidência, era um banqueiro muito rico da cidade que apoiou a idéia de Smith e pagou todos os custos de publicação, divulgação, etc. Ah, mencionei que Smith foi instruído a manter as páginas douradas em segredo? Pois é, ninguém nunca viu essas placas de ouro, nem mesmo Martin Harris. Enfim, Smith ia lendo as placas com a ajuda das pedras mágicas enquanto Martin Harris ia transcrevendo tudo em folhas de papel. Numa dessas o tal Harris levou algumas páginas da transcrição em papel para casa e mostrou a sua esposa, Lucy Harris. Obviamente, a mulher desconfiou dessa história mais sem pé nem cabeça e escondeu as transcrições, alegando que se a loucura do Smith fosse real ele poderia traduzir novamente as páginas de forma fiel. Lucy mandou seu marido dizer ao Smith que as páginas tinham sido perdidas e que precisariam ser traduzidas novamente. E advinha só, Smith de fato traduziu novamente as páginas... mas de forma diferente, com várias incongruências da primeira versão. Por que será? Bom, foi assim que surgiu o livro dos mórmons. Livro esse, que conta histórias bem cômicas, diga-se de passagem. Como, por exemplo, a história relatada no livro de Abrãao na qual o trono de deus fica pertinho de um planeta (ou estrela) chamado Kolob. Tem outros absurdos legais como que se o homem seguir os mandamentos de deus aqui na Terra ele se tornará um deus quando partir desse mundo, e ele pode até ganhar outras esposas pós-morte se deus ficar satisfeito com o trabalho dele. Essa é uma religião criada há, mais ou menos, 200 anos atrás, e tem seguidores no mundo inteiro, dá pra acreditar?

Querem saber de mais loucuras? Já ouviram falar em cientologia? Pois é, a nova moda de Hollywood, John Travolta e companhia estão se esbaldando nessa nova brincadeira religiosa, mas poucos sabem da onde ela vem. A cientologia foi uma religião criada por L. Ron Hubbard, que era um escritor de ficção científica, acreditem se quiser. Ele bolou uma história bem supimpa, que mistura psicanálise, pseudo-ciência e pura loucura, para tentar explicar o porquê somos pessoas deprimidas e tristes e como viemos parar nesse planeta. Aparentemente, há bilhões de anos atrás, existia um governador intergaláctico do mal chamado Xenu, que após constatar que havia uma superpopulação dos planetas decidiu levar bilhões de habitantes para o planeta Terra. Xenu congelou a galera e usou naves intergalácticas parecidas com os aviões McDonnell Douglas DC-8, fabricados nos EUA nos anos 60, para largar esses ET's em vulcões. Já dentro desses vulcões os habitantes intergalácticos foram mortos por bombas de hidrogênio, e suas almas, que por uma tendência física ao que parece iam subindo aos céus, foram capturadas por aparatos gigantes de vácuo que armazenaram essas almas e as recolocaram em instalações onde receberam horas de filmes coloridos que fizeram uma lavagem cerebral nessas almas de criaturas intergalácticas. Essa lavagem cerebral fez as almas alienígenas acreditarem em uma falsa realidade, e após o término dessa etapa as almas foram liberadas e vagaram aleatoriamente na Terra até encontrar os corpos dos seres humanos. Para a cientologia, todos os nossos medos, anseios e depressões vêm do fato de estarmos carregando essas almas viciadas em nossos corpos. Mas não se preocupe! Eles têm a cura para isso, com sessões que custam poucos milhares de dólares você consegue se livrar desse mal e ver a vida em sua plenitude. Sim, tudo que escrevi é verdade. Aí aparece um monte de Zé Qualquer que acha tudo isso maravilhoso, acredita plenamente que existiu Xenu, almas alienígenas, naves espaciais... E é a mesma coisa com qualquer outra religião. “O profeta nos trouxe a palavra de cima daquela pedra, então a pedra é sagrada”.

Parece que o raciocínio lógico do ser humano só se desenvolveu em uma área, e não tá conseguindo fazer a ponte até a religião. Será que é isso?

Bem, tem um outro lado, que não é o dos fiéis. É o lado de quem controla essas insituições religiosas. Olhando de perto a gente percebe que a religião não fornece apenas “explicações”, costumes e contos de fadas, ela também traz poder! E com poder vem dinheiro. Olhem o Vaticano, palácios repletos de ouro, roupas de linho, seda ou sei lá o que. Olhem em Israel os templos gigantescos com ouro e outras coisas bem preciosas. Até o nosso querido e humilde amigo Edir Macedo tem alguns bens materiais bem caros. Será tudo coincidência? Bom, pra quem usa o cérebro, definitivamente não existe coincidência nesse ponto. Eu consigo, sinceramente, ver o sentido na criação de uma religião. É apenas mais uma tentativa de ascender na cadeia do poder dentro da sociedade. Meu problema é com os acéfalos que seguem essas linhas absurdas de pensamento como fiéis devotos. Uma grande praga social é a tradição moral, que é passada de geração em geração. Pais católicos criam filhos católicos que criam netos católicos e assim vai. A merda se alastra sem ninguém nem saber o porquê. Eu gostaria de saber quantas crianças são levadas tanto em igrejas cristãs quanto não cristãs, templos e outros locais religiosos para que possam escolher ao final de tudo sua própria religião. Mais ainda, quantas crianças são criadas com senso crítico afiado e com a aberta possibilidade de que não exista nada no lugar da religião? “Ah, mas é cruel falar para uma criança que não existe deus, é quase desumano”. Isso pode ser verdade pra quem acredita em deus, mas aos olhos de quem não acredita o absurdo está em iludir a pobre criança, mentir descaradamente pro seu filho dizendo que se ele for bonzinho o papai celestial dele vai recompensá-lo e lhe garantir vida eterna. Na minha opinião é muito pior mentir descaradamente para um filho do que falar pra ele “olha, é bem provável que não exista nenhum deus e nenhum céu te esperando quando morrer”. Mas nada disso é muito estranho, pois é basicamente a campanha do medo, nós vivemos sob a eterna bandeira do medo. É quase uma patologia do ser humano sentir medo. Nós temos medo da violência social, de andar de avião, de terremotos, das mudanças climáticas, de doenças contagiosas, do apocalipse, etc. E o medo pode ser bastante proveitoso para aqueles que estão mais alto na hierarquia do poder social. Da mesma forma como o medo do terrorismo legitima um governo que inicia uma guerra sem motivo sustentável, ele pode legitimar uma instituição religiosa por séculos seguidos. As grandes religiões se fundam ou se fundaram em constante propaganda do medo. Desde a inquisição até os atos de terrorismo moderno a campanha que prevaleceu foi a do medo. Em constantes conversas que tenho com pessoas que se consideram religiosas o maior problema que elas apresentam em deixar a religião é o medo do que pode acontecer. Isso esclarece em grande parte a dúvida inicial do texto do por que as pessoas ignoram os avanços científicos para se apegarem às crenças religiosas. E faz sentido, pois crescemos sob o pressuposto de que a pior coisa que se poder fazer na sua vida é negar a existência de deus. O inferno é um conceito muito bem concebido e que facilita em muito o trabalho da igreja em manter todos assustados e crentes no deus todo poderoso. Para ilustrar a questão vamos analisar os dois maiores grupos de religiões do Brasil: católicos e evangélicos. Enquanto o catolicismo vem mudando aos poucos seu discurso, arriscando uma doutrina mais tranquila, pacífica, e baseada no novo testamento, os pastores evangélicos têm reforçado cada vez mais a ideia do inferno, das profecias do antigo testamento e, por consequência, têm reforçado a campanha do medo. O resultado disso? Vamos dar uma olhada no Censo brasileiro, mas especificamente no estudo Tendências Demográficas: Uma Análise da População com Base nos Resultados dos Censos Demográficos de 1940 e 2000 :

O estudo mostrou uma expressiva redução de católicos apostólicos romanos de 95% para 73,6% da população no período 1940/2000. Enquanto isso, os evangélicos cresceram de 2,6% para 15,4%.[9]

O resultado das diferentes posturas adotadas pelas maiores forças religiosas no país é bem evidente. Mas a tática evangélica não é nada estranha à igreja católica, pois foi a mesma tática usada por eles não muito tempo atrás. Eles te prometem o mundo, mas também te aterrorizam caso você não siga corretamente a doutrina e, mais importante de tudo, caso você não contribua financeiramente com a “obra de deus”. Mas não é só o medo de castigos e punição divina que sustenta essa irracional crença no além. Existem mais dois pontos muito relevantes: o primeiro é a carência do ser humano; e o segundo é um tipo medo mais específico, quase que inerente a nossa natureza, que é o medo da morte. A carência é algo que nos leva a fazer coisas estúpidas, como ter um amigo imaginário, tratar animais como gente, viciar em sites de relacionamento e bate papos virtuais, comprar um Tamagoshi, etc. O ser humano tem grande dificuldade em aceitar a idéia de estar sozinho, ou de que só ele entende certas coisas. É quase uma compulsão humana acreditar que existe alguém sempre conosco. Tudo bem, se isso for feito de forma ponderada não há mal nenhum. Podemos criar grandes amizades, arrumar romances, conhecer coisas diferentes, ler livros que nos levam para lugares bacanas, ou até nos dedicarmos ferrenhamente aos estudos para suprir uma parte dessa carência. Mas quando a parte irracional do cérebro humano fala mais alto é que as coisas começam a se complicar. Daí o cidadão passa a acreditar que tem sempre alguém olhando por ele, que o entende, que o defende e protege, e que salvará sua alma na hora da morte. Aliás, morrer é algo inaceitável para as pessoas menos privilegiadas intelectualmente. Para essas pessoas a idéia da morte deve ser repelida de qualquer forma. É então que aparecem as religiões prometendo vidas eternas, reencarnações e absurdos do tipo. E os coitados carentes e incapazes de processar informações no cérebro caem direitinho no conto do vigário. Mas para tentar afastar as explicações dos racionalistas que “pensam demais” as religiões têm um mecanismo bem interessante. Elas distanciam a experiência divina do ser terreno. Eis que as religiões nos falam que nós somos incapazes de entender o que é vida eterna, nós não temos noção da complexidade dos planos de deus, que quem está no céu não pode falar conosco... Tudo que é divino é intocável e não pode ser entendido por nós, meros seres humanos (algo que lembra muito a propaganda socialista). De qualquer forma é uma questão essencial no sustento das religiões, a vida eterna. Esse ponto puxa minha próxima vítima, pois as carências mais absurdas nesse aspecto estão nas religiões derivadas do espiritismo.

Para falarmos de espiritismo teremos que, inevitavelmente, falar de Hippolyte Léon Denizard Rivail, mais conhecido como Allan Kardec. Esse indivíduo foi quem codificou os “conhecimentos” acerca da doutrina espírita. Para não fugir do clichê, a história dele se parece com todas as outras a respeito do início de uma religião. Um espírito apareceu para ele clamando ser o espírito da verdade, e que ele deveria ouvir o que o espírito tinha a dizer e codificar novos ensinamentos para revelar ao mundo (história original, hein?!). Pois então, segundo diz a história, o tal Rivail era um professor que se dedicava ao estudo do “magnetismo humano” (Vou abrir esse parêntese para comentar que toda vez que paro para estudar esses fundamentos religiosos modernos parece que estou num filme tosco de ficção científica da Sessão da Tarde, onde gostam de usar nomes estapafúrdios e cômicos como “arma de lasers cósmicos positrônicos”, ou “acelerador de partículas e ondas plasmocêntricas”. E, obviamente, o mérito científico desses filmes e dessas religiões é o mesmo). Bom, seguindo a história do professor Rivail, eis que ele teve a revelação e, no meio duma dessas conversas/delírios, ele teve uma visão de seu passado encarnado como Allan Kardec, um sacerdote druida, e foi daí que surgiu o pseudônimo que ele usou para fazer todas as suas publicações. O espiritismo também se utiliza da bíblia e de suas passagens como referência espiritual e moral que devem orientar seus fiéis. Além disso, a fé básica do espiritismo gira em torno da existência do ser após sua morte, e de sua reencarnação posterior, de forma que a cada ciclo desses seu espírito evolua intelectualmente e moralmente. No mundo dos espíritos existe uma hierarquia de espíritos mais e menos desenvolvidos. Kardec postulou que é possível nos comunicarmos com esses espíritos através de pessoas que têm qualidades especiais para tal, são os chamados médiuns. O espiritismo define que todos nós somos espíritos em evolução, e que somos reencarnações de espíritos que já habitavam a Terra, de forma que podemos conhecer nosso passado espiritual com a ajuda do hipnotismo. Kardec definiu o espiritismo como uma ciência que trata dos espíritos, sua natureza, destino, origem, etc. O engraçado é que o espiritismo é uma ciência com uma metodologia específica, diferente da metodologia científica. Acho que alguém esqueceu de avisar o sr. Kardec que ciência só é ciência quando segue a metodologia científica, e não uma metologia arbitrária imposta por alguém tendencioso. Não sei quanto ao leitor, mas quando um cientista fala pra mim que acredita em “magnetismo humano” eu passo a ter sérias dúvidas em relação à competência desse “cientista”. O bizarro é que os fiéis realmente acreditam se tratar de uma ciência, como fica bem evidente nessas passagens de um texto do Allan Kardec Spiritist Center[10]:

“Difere o ESPIRITISMO de todas as religiões conhecidas, por demonstrar a lógica de seus ensinos através de experiências científicas documentadas por uma legião de sábios de renome internacional. [...]

Não existe o sobrenatural e o milagre no Espiritismo. Todos os fenômenos, por mais estranhos que pareçam, têm explicação lógica. São, portanto, de ordem natural.

Como se o mundo já não estivesse cheio de pseudo-ciências... Mas basicamente é isso que a galera dos espíritos acredita, que quando se morre seu espírito fica obedecendo ordens de espíritos mais evoluídos, e que a gente fica pairando por aí, enchendo o saco dos outros, transmitindo mensagens por psicografias, esperando nossa próxima reencarnação. Aliás, pelo tempo que o ser humano existe acho que já estava na hora de todos estarem já bem evoluídos e crescidinhos. Porém, o espiritismo colocado aqui é o espiritismo fundamental, baseado nas palavras de Allan Kardec, além dessa vertente existem milhares de outras, como o brasileiríssimo Candomblé, que faz um mexidão com todas as religiões possíveis e cria uma gororoba completamente aleatória, sem sentido e quase esotérica. E tudo isso é basicamente tentando lidar de forma mais confortável com a morte, de acreditarmos que ficaremos bem depois de morrer. Aliás, nós queremos é acreditar que os OUTROS ficarão bem quando morrerem. A maioria das pessoas tem uma imensa dificuldade com a morte, elas querem acreditar que seus entes queridos estão bem, e de que todos que fizeram o bem enquanto vivos estarão salvos.

Aqui, chegamos num ponto que eu considero um dos mais importantes. O egocentrismo do ser humano religioso... Sim, a falsa humildade religiosa. Basicamente a conclusão é: as pessoas querem SE sentir bem, e não fazer os outros se sentirem bem. O conforto com a morte é apenas para nós, seres vivos, o falecido já cessou de existir, para ele não faz diferença nenhuma. Mas nós somos muito egoístas e queremos acreditar no bem das almas para NOS confortarmos e conseguirmos lidar melhor com a morte. Além disso há outros aspectos bizarros do egoísmo religioso. A maioria esmagadora das pessoas religiosas acredita que algo espetacular acontecerá no seu tempo de vida aqui na Terra, seja a vinda de um profeta, seja o fim do mundo, seja um milagre, ou qualquer manifestação sobrenatural grandiosa e especial. Os religiosos acreditam serem especiais demais para perderem algo assim. As pessoas se referem a deus como o seu deus particular, ele responde tudo que essas pessoas perguntam. Não coincidentemente, na fundação das religiões é uma só pessoa que ouve a revelação divina, só UMA pessoa é a escolhida como profeta ou revelador da mensagem sagrada. Acho que os deuses que essas pessoas criam são roucos, e só conseguem falar com uma pessoa por vez. Será que o egoísmo e a possessão que as pessoas têm em relação a sua religiosidade têm a ver com essas incríveis coincidências das histórias dos profetas? Julguem vocês mesmos.

E a hipocrisia é acachapante! É completamente inadmissível aceitarmos que o estilo de vida religioso seja imposto a todos. Especialmente com o típico discurso que “se faz bem para a pessoa, que mal há?” Todo! Cansamos de assistir essas pessoas “de bem” interferindo nas mais diversas esferas da sociedade. Já teve procurador-geral da república católico impedindo o estudo de células-tronco. E tudo isso pra um dia ele ou qualquer defensor da causa recorrer aos avanços um dia negados (lembrando como exemplos históricos o caso de Copérnico, Galileu, Darwin, e muitos outros). O mérito do aborto sendo discutido pelos religiosos usando conceitos que a ciência desvendou. Essas pessoas estão infiltradas nas três esferas do poder exercendo sua fé e impondo morais retrógradas, atrasando o desenvolvimento. Política regada à religião, seu ensino obrigatório... Absurdo! A interferência está por toda parte e não se resume somente a homilia aos domingos. Caso não saibam, nossa ilustre candidata à presidência, Marina Silva, acredita no criacionismo.[11]

Gostaria de fechar esse texto reforçando o fato de que a idéia religiosa é, em geral, reservada aos menos privilegiados intelectualmente, e que, de acordo com os estudos, existe uma forte tendência ao ateísmo conforme os níveis intelectual e escolar aumentam. Não só isso, de acordo com os estudos de Richard Lynn [12], os ateus são, de fato, mais inteligentes. Coincidência? Não, conforme ele mesmo explica, pessoas de maior QI e nível escolar tendem a questionar instituições sociais como os dogmas religiosos, além disso, essas pessoas têm maior acesso à informação, isso significa que elas acabam conhecendo diferentes teorias sobre os fatos questionáveis da realidade. E é essa mensagem final desse texto: se há dogmas ou paradigmas estabelecidos em seu meio social, questione-os! Procure diferentes teorias e alternativas racionais para explicar sua própria realidade. Seja alguém que está sempre do lado do conhecimento e da razão, espalhe boas idéias e incentive o questionamento das pessoas. Se não fossem seres humanos questionadores e estudiosos nós ainda estaríamos vivendo num planeta quadrado sem saber que os macacos são nossos parentes próximos.


sexta-feira, 5 de março de 2010

Geração Coca-Cola... light



Em busca da sociedade saudável condenamos os prazeres pecaminosos da comida, do cigarro, da bebida, do sendentarismo... A sociedade se organiza contra esses males, cria instituições que lutam para a extinção de tais práticas. Vai lançando dietas mirabolantes a cada clique do relógio. O tempo se consome e a vida se prolonga, mais saudável, mais apresentável, pronta para entrar no menor número possível de manequim. A imagem no espelho retrata a simetria e perfeição que a falta de originalidade dos indivíduos alimenta. A insignificância cultural se camufla em atletas e ratos de academia. Enquanto lotamos piscinas, pistas de corrida, restaurantes naturais e aulas de spinning, as bibliotecas se esvaziam, os livros apodrecem e as mentes se inutilizam. A moda se transveste de práticas não percebidas até pelos 'não-conformistas', que se negam a usar roupas de butique, mas fazem questão de estar no número certo de jeans para formatar a imagem perfeita de um falso rebelde. O consumo da moda e do padrão certo vai se acelerando e a conformidade com a dinâmica adoece as mentes. A receita para a sociedade perfeita? Esqueça Aristóteles, Platão, esfera pública... Tudo será resolvido com dieta e exercícios, todos devidamente balanceados e medidos. Em passos largos caminhamos para um futuro cheio de saúde e paranóia com tudo que desce pela nossa garganta.

Enquanto ignoramos nossas mentes nós gostamos de criar novas doenças e psicoses que custam uma fortuna para serem tratadas. Os consultórios de terapia formam filas e mais filas enquanto os jornais noticiam a mais nova paranóia que assola a sempre doente 'sociedade moderna'. O sedentarismo é o maior dos absurdos modernos, mas a preguiça de procurar e absorver cultura é esquecida. Como sempre, nós preferimos passar nossos problemas pra frente, se estamos paranóicos é melhor pagar alguém para resolver para nós. Ler um livro, ouvir uma música diferente? Que isso?! Faz mal! O legal é ter seu próprio terapeuta, tá na moda, seu otário! O estranho é que anos pra frente em seu tratamento a conclusão inevitável é que você mesmo que se deixou adoecer. Você que se deixou levar pelos objetivos intangíveis de perfeição da sociedade, e agora está deitado num confortável divã pagando 200 reais a hora para ter a ilusão de que alguém vai resolver seus problemas para você. É paradoxal como nós mesmos legitimamos os mecanismos que nos deixam adoecer. Somos incapazes de rechaçar as tendências padronizadoras que tanto tentam vender e que tanto nos fazem mal.

Décadas atrás nós criamos a moda do fumo, com um cigarro em mãos e anéis de fumaça sendo lançados da boca qualquer um podia ser sensual, qualquer um podia se encaixar. Criamos a cultura do cigarro, vendemos filmes, imagens, propagandas e patrocinamos estrelas de cinema com suas chaminés em mãos. Malboro man, o ícone de uma geração. Criamos o cigarro, formatamos o desejo por ele, e o vício nos manteve fumando... Tudo pela moda, tudo para ser 'cool'. Qual o preço de tudo isso?
Hoje, já sem um pulmão, penduramos os fumantes na cruz e processamos a indústria do tabaco para atestar nossa estupidez e hipocrisia. Processos e mais processos tentam tirar milhões de uma indústria que nada fez além de sua obrigação (tirar proveito da estupidez generalizada). É algo impressionante como não conseguimos ficar contentes com a nossa estupidez, a culpa tem que sempre ser dos outros!

Na mão contrária, hoje tentamos construir a ilusão do que é saudável, afinal ser saudável é a nova moda. Nos supermercados somos sufocados por pratos rápidos, prontos para comer, e sem gordura trans! Comam, acreditem na ilusão e corram atrás da moda. Leiam o último artigo lançado pela Veja, ele diz que pensar demais faz mal para o corpo, então tenha cuidado! Vamos preservar nossos cérebros intactos e perfeitos, totalmente sem uso. A era da imagem perfeita nos trás inimigos estranhos, as calorias são as novas vilãs da sociedade! A babaquice fica estampada no 'Ligh' das embalagens. A moda dita as novas palavras mágicas, que vendem tão bem quanto o bom e velho tabaco... aprenda a dizer Ligh, Diet, Sem Gordura Trans, pois se você extrapolar os quilos na balança você não será ninguém. Você não precisa entender como o mundo funciona e nem porquê é bom comer o que é light, apenas siga o que te dizem. Enquanto o exercício da intelectualidade vira artigo de museu, a moda entra na sua 'geração saúde'. Bons tempos que estávamos na 'geração Coca-Cola', pois pelo menos a Coca não era Diet ou Zero.

Quem sabe a próxima febre não seja meter uma bala na cabeça, talvez assim iremos parar para questionar nossas prioridades e o que estamos fazendo de nossas vidas em vez de seguir o que dizem ser a nova sensação do momento.

Danda.

domingo, 1 de novembro de 2009

Densidade Infinita - Revisited



Aqui está um disco bastante difícil de se encontrar que foi comprado recentemente pelo Esquadrão SS. Já foi postado o último trabalho da banda que aliás é estupendo. Este, de 2002, entitulado Between Sunlight and Shadow, é bem diferente, comparado ao Of All The Mysteries. Quando digo diferente não se pode supor que seja pior. Leva uma temática diferente com diversas músicas intercaladas, umas bastante curtas e outras de tamanho médio, sempre no intuito de dar continuidade aos temas e construir com calma o clima guiado pelos teclados de John Green. O trabalho das vozes é muito bem feito. A única parte que, para mim, deixou a desejar foram alguns timbres de guitarra.

Esta postagem é mais um presente aos companheiros de blog que procuraram este cd. Excelente! Desfrutem.

Site

Link: Between Sunlight and Shadow


Rodolfo

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Pensamento Científico - Revisited




Uma das principais diferenças fundamentais entre Religião e Ciência é o método científico. Isto é, podemos ser tão criativos em criar deuses quanto leis. Ambos não precisam de provas e estão engendrados em nossa observação e flexibilidade de definição. Alguns creditam fenômenos naturais a entidades para explicar e/ou predizer fatos. Alguns não, todos. Só estamos mudando nomes, palavras, pois posso dizer tanto vontade de Deus quanto campo elétrico. Falta algo mais.

Esse algo mais é chamado lógica. Todo pensamento atual, englobando as diversas ciências, é suposto ter caráter lógico e alguma teoria é dita ser do tipo dedutiva. Ou seja, arquitetamos um punhado - quanto menos melhor - suposições e chegamos a um resultado baseado em conclusões lógicas. Uma teoria dedutiva é a geometria criado por Euclides em que todos seus teoremas são criados a partir de definições, postulados e axiomas por meio de raciocínio lógico. Axiomas são teoremas considerados evidentes por si só na natureza e, portanto, não precisam de provas. Os postulados são afirmações construídas em cima de definições, assim como ponto, reta, quadrilátero etc. Também é comum encontrar esses termos como intercambiáveis. Parece bobo, a princípio, mas o fato é que essa argumentação lógica foi tão seguida à risca que por mais de 2 mil anos os teoremas de Euclides foram considerados como verdade absoluta!

Vejamos então como a mudança procedeu e suas implicações. Conhecido como axioma das retas paralelas, em que "por um ponto fora de uma dada reta, pode-se traçar uma e somente uma reta paralela àquela dada reta", foi alvo de objeção, por Gauss, Reimann, Lobachevski e outros, no século XIX. Nasceram então as geometrias não euclidianas. Como o assunto não é estritamente
matemática aqui, uma consequência de tal pensamento é refletido sob vários ângulos. Em primeira instância, se torna visível que em uma teoria dedutiva o ponto de partida na criação de axiomas não é auto-evidente ou dado pela razão pura (seja de quem for), mas sim, por uma quesntão de escolha! Dependendo de onde partimos chegaremos em diferentes resultados. Isso é bem esquisito se pensarmos que do nada chegamos a algum lugar. Joguem pedras na Ciência mas o fato é que nos desenvolvemos e temos um jeito de transmitir o discurso do papa para quem bem entendermos ou mesmo mandarmos um e-mail, puxarmos a descarga...

Ainda, dentro dessa aparente escolha arbitrária, sempre temos em mente uma concatenação lógica de eventos para alcançarmos algum resultado. E outra questão que inevitavelmente surge é se realmente a natureza se comporta de maneira lógica. Sinceramente, não tenho ideia concreta. Mas acho que se for de maneira lógica, um dia chegaremos a expressão matemática dela. Quando aí é pedir demais... Uma certeza que temos é que a lógica indubitavelmente traz frutos e não estamos perdendo tempo em considerá-la em todos os aspectos, até mesmo nos momentos mais randômicos do nosso dia-a-dia ou no imprevisível mercado de ações.

Bem, como axioma não é algo tão evidente assim quanto parece e damos ao luxo de nem mesmo prová-lo, o cuidado tem que ser redobrado na sua formulação. Em pormenores, seu conjunto de axiomas não pode ser redundante - não se pode derivar um axioma de outro - e, ainda, não pode ser contraditório - não se pode derivar um teorema e sua negação advinda da mesma estrutura/conjunto axiomático. Provar a ausência desses dois requerimentos é de enorme dificuldade. Já dogmas...


Rodolfo

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Test Audition



Então chegou a encomenda. Dentre tantos me supreendeu algo de nosso grande Brasil. Algo que deve ser novo para a grande maioria, tenho certeza. Haddad é uma banda não nova em tempo, e sim uma banda nova em atitude. Concentraram-se em somente fazer música de qualidade. Segue nota do encarte:
"Eros & Thanatos é conceitual e sintético:para mim representa aquele pote de ouro que somente os sonhadores encontram onde termina o arco-íris. Impossível dizer, na altura, se com ele chegamos ao fim da estrada; de uma longa e fantástica estrada musical.
O álbum que você tem em mãos abriga história e faz juz aela. A histórias de nossas vidas. Suas canções têm origensdiversas. No tempo, no espaço, na temática que abordam, nas emoções a partir das quais foram gestadas e a que se reportam. Muitas delas datam de quinze, vinte anos atrás... Claro, sofreram mutações; aperfeiçoamentos (quero crer), desde o dia em que vieram à luz até o momento em que foram gravadas e disponibilizadas para audição no formato que se tem aqui e agora. Daí tantas dedicatórias nos créditos e tantas remissões.
As dezenoves músicasdo repertório de Eros e Thanatos funcionam como corda de amarração, como elos que unem fortemente uma extensa cadeia criativa. A contar da overture: Deuses, anjos, homens & bestas. Quem acompanha a saga da banda há de perceber, faz alusão (explícita no título e implícita no fenótipo) ao cd lançado peloHaddad em 1997. Não estava pronta naquele ano (a propósito, DAHB foi a última peça composta para este disco), mas ergue uma ponte abstrata, metafórica, necessária entre passado e presente, entre o monstruoso da aurora e o angelical do anoitecer, entre o romantismo e impressionismo, entre o acústico brutal e o eletrônico singelo, entre inclinações e oscilações estilísticas aparentemente inconciliáveis, porém inexoráveis, como a trajetória descrita pelo pêndulo de foucault. ...]


Com letras em sua maioria em português, o album, lançado neste ano!, é bem eclético e deve agradar a qualquer amante da boa música. Deixo o CD 1 para degustação...

Site

Link: Haddad - Eros & Thanatos

ouLink
Link alternativo: Haddad - Eros & Thanatos



Rodolfo

Culinária musical

Compensando pelos tempos que nosso blog parecia abandonado e criava teias de aranhas, agora o ritmo de postagens é frenético. A postagem de hoje serve a mesma função daquela coisinha irritante do MSN que mostra o que o outro indivíduo está ouvindo, algo que varia normalmente entre clássicos do rock e porcarias atuais como John Mayer, Jack Johnson...

Mas aqui tudo é diferente! Quero mostrar o que tem deixado meus cabelos em pé e de ouvidos cheios nesses últimos dias. Sabe aquele disco que vc fica protelando em ouvir, sempre aparece na reprodução randômica do Media Player e vc pula... Até que finalmente tomei coragem e ouvi o disco na íntegra, uma, duas, três e quatro vezes. Foi o suficiente, estou fascinado pelo disco! E qual seria a obra em questão? Ah, boa pergunta, é de uma banda chamada Lobster Newberg, e o disco em questão é entitulado Actress.

Essa banda usa uma fusão de sons muito doida, contendo elementos do rock progressivo, jazz, metal, fusion, blues e outras coisas mais. A salada de sons tem uma execução magnífica e bem produzida. O disco tem atmosferas distintas entre as músicas e consegue acatar uma boa gama de texturas musicais. Realmente uma obra diferente e que dá gosto de escutar... Mas lembrando o que foi falado no início do post, talvez seja uma banda que vc relute em ouvir, crie uma antipatia repentina ao ouvir algun acorde estranho. Mas não se desespere, ouça com calma e atenção e tente curtir cada passagem e atmosfera criadas no disco.

E o culinária musical no título? Ah, isso refere-se da onde vem o nome da banda, é um prato de lagosta e coisas a mais que foi inventado por um cara chamado Ben Wenberg e fazia parte do menu de um restaurante na cidade de New York chamado Delmonico's Restaurant. O nome original do prato continha o nome de seu criador, Wenberg, mas após uma briga com o dono do restaurante o chef mudou o nome do prato para Newberg e continuou servindo o mesmo prato. Cultura inútil, não?

Dados da banda:
País: EUA
Cidade: Chicago

Integrantes:
Colin Peterik - Voz e teclado
Phil Miller - Guitarra
Jamie Dull - Bateria
Corey Kamerman - Baixo


Danda


sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A recorrente e infinita discussão sobre Música




Bom, mais uma vez eu gostaria de abordar um tema amplamente discutido em mesas de botecos nessa vida. Um tema muito comum de surgir, mas que SEMPRE gera discussões calorosas e exaltadas. A temática tem relação fundamental com a essência desse blog, o tema em questão nada mais é do que... Música.

Simples, porém complexo.

Explico-me: como se nota pelo blog que mantemos, somos admiradores da boa música. Aqui nós exaltamos a música não notada pelas massas, a música nova, a amplitude de gêneros e bandas que o mundo atual nos proporciona, a diversidade cultural da origem da música... Porém, é uma visão um tanto quanto atípica, se tratando de maiorias. As pessoas costumam viver pela inércia, costumam apenas reproduzir o que assistem na televisão, o que ouvem no rádio ou o que o último sucesso da balada noturna. As pessoas tendem a se tornar apenas meios de reprodução, negando sua essência humana de ser um elemento de criação. Isso não me admira, pois vivemos na era do poder dos conglomerados midiáticos, das grandes redes de transmissão e reprodução de cultura cirurgicamente criada em escritórios das gigantes corporações do meio do entretenimento. O que se entende por cultura agora é simplesmente um bem de mercado. Pode-se dizer que pegaram a ‘cultura’ e abriram seu capital na bolsa, agora quem tem mais dinheiro tem controle sobre a ‘cultura’. E todos bem sabem que isso não é nenhuma teoria da conspiração ou devaneio da minha cabeça, pois o mundo bem entende como que funciona o mercado e qual é o poder do dinheiro. É natural que uma grande emissora de televisão vá cobrar de um artista um certo ‘jabá’ para colocá-lo no horário de pico de audiência no sábado à tarde. Da mesma forma acontece com as rádios e outros meios de mídia. Mas quem está exposto a esse tipo de ‘cultura’ não pensa e se questiona o porquê de tudo isso...

Mas, pela sanidade das mentes pensantes, ainda existem aqueles que se esforçam para entender sua realidade e são capazes de desconstruir aquilo que nos é martelado na cabeça desde que viemos a esse mundo, e são capazes de criar coisas novas. Pessoas que ainda resguardam uma gota de racionalidade e conseguem repelir o que o mercado tenta empurrar pela nossa goela. São seres que se aproveitam de sua capacidade intelectual para se tornar fonte e recepctor de novas e belas criações. Apreciar a boa música não é simplesmente uma questão de gosto, é uma questão de compreensão. Claro que música tem muito a ver com o gosto de cada um, mas a boa música se alastra por todas as categorias e gêneros musicais, permitindo que cada um ache seu gosto dentro desse amplo espectro de cultura legítima. Boa música tem a ver com seriedade, competência, dignidade, paixão, etc, etc. A boa música é feita por quem ama fazer música, por quem tenta entender o mínimo sobre o mundo musical, para tentar criar algo novo e bem lapidado, que seja capaz de transmitir sentimentos e experiências inexplicáveis. A boa música é feita com razões mais nobres do que ‘vender’ ou ‘fazer todo mundo dançar’, ela deve ter razoes que dignificam a essência do ser humano.

Muitos me perguntam: o que vc tem contra a música que se houve em boates, shows, rádios, tv’s, etc? A princípio, nada. Pois, pra mim, seria óbvio que as pessoas entenderiam aquilo como apenas um tipo de manifestação da cultura musical, o tipo comercial. Pra mim, é claro que todos os seres com um cérebro dentro da cabeça entenderiam que o conhecimento e a cultura transcendem o que passa na tv... Mas não é isso que acontece. As massas restringem sua realidade àquilo que é fácil de entender e que é fácil de se ter acesso. Qual o problema disso? O mundo esta ficando burro, esse é o problema!

A música, em seu princípio, não é uma fórmula geométrica de 3 minutos que intercala verso, refrão, verso... ou um bate-estaca repetitivo e alucinante que faz vc varar dias acordado sob o efeito de drogas em um espiral psicótico de alucinação. Isso não é música! Música vai além de tudo isso! Como diria Nietzsche, “A música nos oferece momentos de verdadeiros sentimentos”. O que Nietzsche tenta dizer é que a música está intrinsecamente relacionada com paixões, com sentimentos, com a expressão máxima que o ser humano tem de sua subjetividade. Não é simplesmente ouvir uma baladinha pra ficar animado ou um hip-hop pra se sentir o cara do mal rodeado por putas. Música é a realização de algo intangível de tão grandioso e complexo. Construir uma obra musical é uma tarefa que exige reflexão, cuidado, estudo e paixão. Quem consegue entender esse conceito de música consegue expandir sua compreensão do mundo, o que abre novas possibilidades de construir uma realidade diferente, uma realidade melhor. Ficar preso no que toca na Jovem Pan, no Caldeirão do Huck, na Universo Paralelo... etc... vai atrofiando o cérebro daquelas que negam sua essência racional e insistem na hipotrofia intelectual. Não é a toa que na comunidade dos blogs de rock progressivo, jazz e outros gêneros da boa música, sempre existem discussões de alto nível intelectual. Nessa comunidade virtual conhecemos, mesmo que virtualmente, pessoas polidas, letradas, bem educadas e muito inteligentes. Pq? Pq são pessoas preocupadas em expandir seu conhecimento e sua cultura, não ficam presas no show de horrores que a mídia insiste em promover. Enquanto isso basta uma rápida olhada pelas comunidades do Orkut relacionadas a qualquer tipo porcaria de música para percebermos a falta de qualquer tipo de lapidação mental das pessoas, nem mesmo escrever corretamente as pessoas conseguem mais... Não que os textos aqui postados sejam um primor da gramática e do exercício intelectual, mas aqui, pelo menos, nós tentamos nos melhorar a cada dia. Nós tentamos levar a todos uma pitada de cultura, apenas uma fração do que o mundo pode nos oferecer se estivermos com a cabeça aberta.

Em contraste a isso somos obrigados a encarar uma frase comum que sempre escutarmos por aí: “Poxa, vcs são tão cabeça fechada...”
Essa frase fecha minha argumentação com chave de ouro, pois nós, que buscamos todos os dias, incansavelmente, novas fontes de conhecimento, cultura e gêneros musicais, somos os ‘cabeça fechada’! Simplesmente genial! Por outro lado, quem simplesmente reproduz o que ouviu na tv, rádio e na boate é cabeça aberta...

Isso tudo foi colocado aqui para efeitos de reflexão. Para ver se as pessoas conseguem compreender essa argumentação e essa nova visão da realidade. Para os blogueros de plantão e ‘soldados’ da boa causa digo que devemos sempre lutar contra o fluxo da massa e tentar construir um mundo mais lúcido e coerente, de pessoas dispostas a realmente ‘abrirem’ suas cabeças para novas experiências culturais, mesmo sendo uma tarefa bem difícil, haja visto as figuras que temos que encarar por essa vida.


Danda.