A pesquisa cientifica é a metodologia específica a ser aplicada sobre um conjunto de premissas e axiomas da realidade a fim de testar seu potencial explicativo de certos eventos. A pesquisa é importante para validar novos conhecimentos, consolidando teorias que tornam o padrão da realidade mais passível de entendimento. O início dos trabalhos de uma pesquisa científica se dá no momento que é constituído um problema, normalmente em forma de pergunta:
- Pq a maçã caiu na minha cabeça?
- Qual a importância do Mercosul nos negócios brasileiros com a Argentina?
- Como os EUA influenciaram na revolução francesa?
A ciência, aos olhos dos autores clássicos, só pode ter sua existência dentro de premissas imparciais da verdade e da realidade. A distinção entre o agente e o objeto/estrutura pode ser construída de formas distintas, variando de autor para autor. Além de imparcialidade a teoria social, constituída a partir da pesquisa, deve ser passível de comprovação empírica. Então existem duas premissas básicas: objetividade e comprovação empírica.
Porém, nas ciências sociais a constituição de um problema de pesquisa está relacionada diretamente ao objetivo tendencioso do agente. Nas ciências naturais, a utilização de variáveis não correspondentes ao objeto estudado altera seu resultado, tornando a obtenção de uma equação explanatória sobre o evento impossível. Em termos práticos isso significa que se Newton tentasse aplicar variáveis ou constantes da Termodinâmica na relação gravitacional que causou a queda da maçã o resultado da equação seria absurdo, não explicando nada. Já na ciência social, o levantamento de variáveis, eventos, fatos e conhecimentos não é restrito senão à própria vontade do investigador. A imposição de premissas, tidas como verdadeiras, a uma problemática social a torna condicionada a tais premissas, ou seja, ao próprio formulador, condicionando sua existência à subjetividade do agente.
Porém, à frente desses autores clássicos se constituíram meta-teorias (teorias sobre teorias) que analisam a epistemologia aplicada dos tradicionalistas, em alguns casos até questionando a própria ontologia de tais pensadores. Esses questionamentos têm como base a subjetividade do próprio objeto, ou seja, a pesquisa não pode ser totalmente objetiva se o próprio objeto é normativo.
Adiante dessas interpretações se entende que a verdade sobre a realidade é sempre condicionada ao discurso dominante na sociedade. Esse discurso é exercido por inúmeras instituições, dentre elas, escolas, propagandas, mercado, governo, políticas externas, até pelo psicólogo que vc consulta uma vez por semana. Todos são braços de legitimação desse discurso sobre a verdade. O erro é pensar que é tudo proposital, que essas instituições são más e deliberadamente consolidam a versão da realidade mais conveniente. Na maioria das vezes a propagação do discurso é apenas uma atividade mecânica das pessoas. Logo é esse discurso que se torna a verdade dominante. Não existe verdade absoluta no campo das ciências sociais. A idéia de uma verdade transcendente se perdeu junto aos tradicionalistas.
Com isso o objetivo de uma pesquisa científica se desvirtua da proposta inicial dos autores clássicos. Insistir nas premissas clássicas de verdade absoluta e realidade imutável se torna apenas um instrumento de reforço da ordem social, já que não há o questionamento da própria verdade. A função da pesquisa social é reorganizar a realidade de forma mais conveniente a uma classe. A criação de premissas e axiomas sobre a realidade são formas de reforçar ou negar um discurso dominante, não mais de estabelecer conhecimentos mais próximos de uma verdade absoluta. A pesquisa científica se torna uma ferramenta de molde da realidade e da verdade.
Danda
2 comentários:
Hahahahahahaha fazia tempo que eu não lia algo com tamanha qualidade de argumentação, eu já estava me avostumando, de fato, ao mundo da "acefalia". Essa questão sobre qual o papel e os métodos científicos pode levar a absurdos "totalmente validáveis" pelas pessoas. É uma questão complicada mesmo quando aplicada às ciências naturais, onde tem-se o valor da experimentação como semi-divino e potencialmente detentor da verdade. Em se tratando das ciências sociais o fato se toena muito mais complicado, porque não existe uma fonte de verdades e uma teoria pode ser bem sucedida pelo simples "acaso" de ser mais conveniente ao modelo atual.
Economicamente passamos por períodos que explicitam bem esse argumento. Em alguns períodos a intervenção do governo na economia era considerado algo totalmente proibido, enquanto que hj em dia o governo é o grande aparador de crises, só para citar como exemplo. As pessoas, como de costume, não refletem sobre as teorias econômicas (de fato não refletem sobre nada, só refletem a luz porque também não conseguem impedir isso) e por comodidade e também para mostrar algum tipo de domínio sobre o mundo em que vivem repetem algumas teorias manjadas que saem na imprensa (que é a grande formadora de opiniões e talvez a classe mais despreparada para isso) corroborando para que essas teorias sejam aceitas como verdades.
Porém como é de praxe eu não posso passar por um texto se discordar de algo. Quando se diz que não existe o questionamento da verdade, eu discordo pelo ponto de vista, particular, de que "a verdade" não existe, não ao menos no singular então não pode ser questionada de maneira nenhuma. O que existe é uma concepção única dentro de cada ser social, seja ele uma pessoa, uma empresa ou o governo. Cada ser social tem sua verdade intrínseca, logo não pode existir um questionamento geral sobre a verdade por motivações puramente práticas, o que acontece é que o "consenso" criado vai moldando, ao menos em parte, a verdade que cada pessoa acredita. E essa letargia geral se transforma numa possibilidade de padronizar os costumes e os preceitos sociais. As entidades que são espertas o suficiente para entender um pouco o que se passa no consenso, ou qual será o próximo consenso se utilizam disso para obter vantagens. Algumas pessoas se sentindo inferiorizadas porque não conseguem se desvencilhar disso acabam por aclamar essas entidades como demoníacas e manipuladoras.
É isso, só isso. Abraço Parabéns pelo texto
Fala, Cícero. Primeiro, fico grato pelos elogios. Segundo, a crítica feita ao final do seu comentário sobre o questionamento da verdade se explica da seguinte forma: o questionamento da verdade proposto no texto não se refere à um verdade absoluta, pois, sim, eu concordo com vc de que tal verdade n existe. A verdade a ser questionada é justamente o conjunto de premissas dominantes que se impoem como verdades. Pois o senso comum é de que a verdade absoluta existe sempre no mesmo lugar, cabe a nós procura-la através de métodos de pesquisa tradicionais. O problema é que esses métodos tradicionais, nas ciênciais sociais, apenas reforçam o próprio discurso de verdade dominante, negando um questionamento sobre: o que é verdade, e será que ela só existe imparcialmente dentro do modelo clássico?
Danda
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