quarta-feira, 24 de outubro de 2007
"Prioridade"
Outro ponto importante e que poucas pessoas tomam nota - e quando o fazem, ouvem inverdades - é sobre o REUNI. Na verdade, o REUNI estava previsto como meta de expansão da oferta do ensino superior no Plano Nacional de Educação, uma lei. REUNI é o decreto 6096 que se chama Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das universidades Federais. Vamos ao que diz o decreto. Ele tem o objetivo de ampliar o acesso e a permanência no ensino superior, no nível de graduação, "pelo melhor aproveitamento da estrutura física e de recursos humanos existentes nas universidades federais". Ou seja, quase nada. O queixo cai agora, logo no inciso 1 do primeiro artigo: "elevação gradual da taxa de conclusão média dos cursos de graduação presenciais para 90%! e da relação de alunos de graduação em cursos presenciais por professor para 18%! em cinco anos". Se alguém ainda tem dúvida se isso funcionará está fantasiando. Ok. Se isso for cumprido será pior ainda. Ora, se essa meta levasse em conta critérios da boa qualidade e da perpetuação de graduados em nível internacional, não haveria problema. Só que sabemos que essa meta significará péssimos formandos, infraestrutura precária, salários baixíssimos em muitas desgraças mais. Ficará facílimo ser um graduado. A primeira contradição é que pelo PAC, nos próximos 10 anos!, haverá uma limitação na expansão das folhas de pagamento não superior a 1,5% ao ano. Pelo visto a meta está só no pensamento. O governo, com esse decreto, prega uma falsa inclusão social. A aprovação automática é o oposto preconizado para o aumento da qualidade do ensino superior. Com isso, Lulinha paz e amor faz a cabeça dos menos favorecidos. Ainda, até agora 15 universidades aderiram ao REUNI, inclusive a UnB. No entanto, o que acontecerá com as universidades que não aderirem? Ficarão sem uma fatia reservada do bolo?
Finalizando, fica evidente o quanto a cada dia a educação não é tratada como educação e sim, como instrumento de barganha para conseguir votos mergulhados em acordos políticos e remanejamento escusos de verbas públicas. Fica por último mais uma constatação esdrúxula. No próprio decreto 6096, em seu terceiro inciso do terceiro artigo, está escrito que os planos de reestruturação serão condicionados à capacidade orçamentária e operacional do Ministério da Educação. O poço está perto.
Rodolfo
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Ciências naturais x pseudo-ciências
Durante alguns anos, pude perceber acontecimentos bem esdrúxulos, nos quais um padrão era seguido por todos eles. Claro que com algum interesse por trás. Até aí tudo bem. Similaridades podem surgir, num campo mais profundo, com os textos precedentes, mas vale ressaltar o procedimento mais evidente, a relação mais próxima com o "consumidor final". Sendo mais direto, quero falar da famosa pseudociência. Um apanhado de conhecimento quase imutável que se veste de ciência pra ganhar legitimidade com algum fim. Na maioria das vezes, causar rebuliço.
A pseudociência se distancia e muito da verdadeira Ciência. A distinção que é facilmente percebida é que o objetivo da ciência é refinar o nosso conhecimento do mundo físico, enquanto a pseudociência é movida por objetivos ideológico, cultural, comercial e muitos outros. A ciência sempre busca o contraditório, teorias e congêneres, são sempre que possíveis testadas por todos os modos e mesmo assim, podem ser invalidadas a qualquer tempo, e ainda tem que ser estabelecida sem ambigüidades. Agora, a pseudociência sempre vem acompanhada com termos vagos como "fluidos biomagnéticos" e "energias vibracionais", e sempre que algo a contesta, o motivo da contestação é sempre ignorado; dogmas, indivíduos que a representam tem status de personalidade e invocam autoridade. Pelo visto, uma é o oposto da outra.
Discorrerei sobre alguns exemplos. Apenas alguns, porque pseudociência é o que não falta. Uma forma de pseudociência é o filme "Quem Somos Nós". Todos quando terminamos de assistir ao filme ficamos pensativos, e acreditando mesmo que podemos influenciar o mundo com os nossos pensamentos. No filme são discutidos vários assuntos desde neurologia, física quântica, metafísica, psicologia, religião. Uma das idéias principais do filme, e teremos que concordar com isso, é o universo ser formado por pensamentos, idéias. Inclusive, a maioria das pessoas que participam do filme é renomada no mundo acadêmico. Alguns com vários PhDs. Algo bastante intrigante no filme é o protagonizado por Masaru Emoto. O sujeito que anunciou que os cristais de gelo das moléculas de água adquirem conformações de acordo com palavras, consciências, sons e por aí vai. Emoto recebeu um certificado da Open International University of Alternative Medicine de um ano. Medicina alternativa? Isso mesmo. No filme falava que palavras escritas como "amor", "obrigado", em um pedaço de papel, e fixadas em um contêiner de água, fazia com ela adquirisse formas belas e harmônicas. Enquanto palavras como "eu vou te matar" e outras agressivas proporcionavam cristais feios e assimétricos. O mesmo foi feito com música clássica e hard rock. Perguntaram para Emoto o que os cristais são e ele respondeu que "eram espíritos". Se alguém ainda acredita que isso é ciência... Pelo que tudo indica - e pode-se encontrar tudo o que estou falando com algumas buscas na internet -, os métodos usados por Emoto foram totalmente parciais. Ou seja, ele manipulou os resultados para se encaixarem no que ele queria que desse certo. Obviamente. O objetivo é dar respaldo para acreditar na manipulação da realidade com nossos pensamentos e influenciar pessoas, já que, segundo o filme, somos constituídos por 90% de água. O que é mentira. Recém-nascidos têm em torno de 78%, um homem e uma mulher adultos 60% e 55%, respectivamente. Quem vem acobertando é a parte neurológica do filme, na qual diz que peptídeos produzidos no cérebro causam uma reação emocional culminante, fazendo-nos ter novas perspectivas sobre nossos pensamentos. Daí termos sempre em mente uma noção de pensar sempre coisas boas e todo esse papo. Como era? Se os pensamentos podem fazer isso com a água, imagine o que podem fazer com os seres humanos, que são constituídos basicamente por água. Tudo pra falar que nossa mente tem o controle da realidade. Ora, e é óbvio, assim como todas as pseudociências - posso incluir a religião nisso? -, se não der certo com você, é porque você não acredita, ou acredita pouco. Talvez o aspecto pedagógico do filme, na parte superficial de fazer as pessoas entenderem alguns fundamentos qualitativos da física quântica tenha sido um bom negócio. Porém, nesse contexto de promover a pseudociência é totalmente prejudicial. Esquece o talvez. Pois só busca algo - e no presente caso, algo surreal para várias pessoas e de pouco domínio até para especialistas, a mecânica quântica - para dar embasamento à tais absurdos, à tais crenças vazias. E pelo contrário, a ciência, algo de credibilidade e possuidora da lógica mais fina, até agora, diz que "Deus joga dados". Em outras palavras, o "universo é um cassino".
Um outro exemplo muito curioso, e talvez um tanto desconhecido, é a Cultura Racional. Não posso falar com tanta propriedade sobre o assunto, pois ainda não li a obra célebre "Universo em Desencanto". A filosofia por trás dessa "cultura" é voltarmos para a nossa origem, que é um mundo em que ainda não fomos corrompidos pelos fluidos monstros. São eles: o elétrico e o magnético. E ao ler tal obra, vamos aos poucos nos livrando desse mundo que nos mata com "alterações biomagnéticas". As doenças, por exemplo. Leremos à obra até chegarmos num estágio em que possamos ver em todas as dimensões! Ver o que acontece do Brasil, no Japão. Premeditar o futuro. E claro, essa religião é genuinamente brasileira. Ainda, segundo uma palestra assistida ao vivo: a luz, somente em Brasília, é fotoelétrica! Isso dispensa comentários. Total absurdo que, assim como o filme, tenta legitimar a crença nas costas da ciência.
Esse assunto me faz pensar que se a ciência fosse tratada como dogma, onde estaria a base para outras pseudociências, já que os termos usados são, algumas vezes, dela advindos. E ainda mais grave, quais seriam os reagentes do desenvolvimento intelectual e da humanidade? - pra não dizer desenvolvimento humano, pois pode avivar más interpretações. Seria o caso de tratá-la como imutável, porque é um dogma. Ficaríamos estagnados. Não vale a pena.
Rodolfo