quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Ciências naturais x pseudo-ciências

Durante alguns anos, pude perceber acontecimentos bem esdrúxulos, nos quais um padrão era seguido por todos eles. Claro que com algum interesse por trás. Até aí tudo bem. Similaridades podem surgir, num campo mais profundo, com os textos precedentes, mas vale ressaltar o procedimento mais evidente, a relação mais próxima com o "consumidor final". Sendo mais direto, quero falar da famosa pseudociência. Um apanhado de conhecimento quase imutável que se veste de ciência pra ganhar legitimidade com algum fim. Na maioria das vezes, causar rebuliço.

A pseudociência se distancia e muito da verdadeira Ciência. A distinção que é facilmente percebida é que o objetivo da ciência é refinar o nosso conhecimento do mundo físico, enquanto a pseudociência é movida por objetivos ideológico, cultural, comercial e muitos outros. A ciência sempre busca o contraditório, teorias e congêneres, são sempre que possíveis testadas por todos os modos e mesmo assim, podem ser invalidadas a qualquer tempo, e ainda tem que ser estabelecida sem ambigüidades. Agora, a pseudociência sempre vem acompanhada com termos vagos como "fluidos biomagnéticos" e "energias vibracionais", e sempre que algo a contesta, o motivo da contestação é sempre ignorado; dogmas, indivíduos que a representam tem status de personalidade e invocam autoridade. Pelo visto, uma é o oposto da outra.

Discorrerei sobre alguns exemplos. Apenas alguns, porque pseudociência é o que não falta. Uma forma de pseudociência é o filme "Quem Somos Nós". Todos quando terminamos de assistir ao filme ficamos pensativos, e acreditando mesmo que podemos influenciar o mundo com os nossos pensamentos. No filme são discutidos vários assuntos desde neurologia, física quântica, metafísica, psicologia, religião. Uma das idéias principais do filme, e teremos que concordar com isso, é o universo ser formado por pensamentos, idéias. Inclusive, a maioria das pessoas que participam do filme é renomada no mundo acadêmico. Alguns com vários PhDs. Algo bastante intrigante no filme é o protagonizado por Masaru Emoto. O sujeito que anunciou que os cristais de gelo das moléculas de água adquirem conformações de acordo com palavras, consciências, sons e por aí vai. Emoto recebeu um certificado da Open International University of Alternative Medicine de um ano. Medicina alternativa? Isso mesmo. No filme falava que palavras escritas como "amor", "obrigado", em um pedaço de papel, e fixadas em um contêiner de água, fazia com ela adquirisse formas belas e harmônicas. Enquanto palavras como "eu vou te matar" e outras agressivas proporcionavam cristais feios e assimétricos. O mesmo foi feito com música clássica e hard rock. Perguntaram para Emoto o que os cristais são e ele respondeu que "eram espíritos". Se alguém ainda acredita que isso é ciência... Pelo que tudo indica - e pode-se encontrar tudo o que estou falando com algumas buscas na internet -, os métodos usados por Emoto foram totalmente parciais. Ou seja, ele manipulou os resultados para se encaixarem no que ele queria que desse certo. Obviamente. O objetivo é dar respaldo para acreditar na manipulação da realidade com nossos pensamentos e influenciar pessoas, já que, segundo o filme, somos constituídos por 90% de água. O que é mentira. Recém-nascidos têm em torno de 78%, um homem e uma mulher adultos 60% e 55%, respectivamente. Quem vem acobertando é a parte neurológica do filme, na qual diz que peptídeos produzidos no cérebro causam uma reação emocional culminante, fazendo-nos ter novas perspectivas sobre nossos pensamentos. Daí termos sempre em mente uma noção de pensar sempre coisas boas e todo esse papo. Como era? Se os pensamentos podem fazer isso com a água, imagine o que podem fazer com os seres humanos, que são constituídos basicamente por água. Tudo pra falar que nossa mente tem o controle da realidade. Ora, e é óbvio, assim como todas as pseudociências - posso incluir a religião nisso? -, se não der certo com você, é porque você não acredita, ou acredita pouco. Talvez o aspecto pedagógico do filme, na parte superficial de fazer as pessoas entenderem alguns fundamentos qualitativos da física quântica tenha sido um bom negócio. Porém, nesse contexto de promover a pseudociência é totalmente prejudicial. Esquece o talvez. Pois só busca algo - e no presente caso, algo surreal para várias pessoas e de pouco domínio até para especialistas, a mecânica quântica - para dar embasamento à tais absurdos, à tais crenças vazias. E pelo contrário, a ciência, algo de credibilidade e possuidora da lógica mais fina, até agora, diz que "Deus joga dados". Em outras palavras, o "universo é um cassino".

Um outro exemplo muito curioso, e talvez um tanto desconhecido, é a Cultura Racional. Não posso falar com tanta propriedade sobre o assunto, pois ainda não li a obra célebre "Universo em Desencanto". A filosofia por trás dessa "cultura" é voltarmos para a nossa origem, que é um mundo em que ainda não fomos corrompidos pelos fluidos monstros. São eles: o elétrico e o magnético. E ao ler tal obra, vamos aos poucos nos livrando desse mundo que nos mata com "alterações biomagnéticas". As doenças, por exemplo. Leremos à obra até chegarmos num estágio em que possamos ver em todas as dimensões! Ver o que acontece do Brasil, no Japão. Premeditar o futuro. E claro, essa religião é genuinamente brasileira. Ainda, segundo uma palestra assistida ao vivo: a luz, somente em Brasília, é fotoelétrica! Isso dispensa comentários. Total absurdo que, assim como o filme, tenta legitimar a crença nas costas da ciência.

Esse assunto me faz pensar que se a ciência fosse tratada como dogma, onde estaria a base para outras pseudociências, já que os termos usados são, algumas vezes, dela advindos. E ainda mais grave, quais seriam os reagentes do desenvolvimento intelectual e da humanidade? - pra não dizer desenvolvimento humano, pois pode avivar más interpretações. Seria o caso de tratá-la como imutável, porque é um dogma. Ficaríamos estagnados. Não vale a pena.

Rodolfo

9 comentários:

Esquadrão SS disse...

Bom, vou começar por elogiar o tema abordado pelo nosso companheiro. O dilema do que legitima uma verdadeira ciência vem de velha data e pode incluir outros rivais além das pseudo ciências. O maior duelo que existe no mundo acadêmico, por inteiro, é o duelo ciências naturais versus ciências sociais. Esse velho duelo nos trouxe vários pontos que podem elucidar a controvérsia abordada pelo texto. Ciência, como defini-la?
Devemos voltar à época da grande revolução francesa, que nos trouxe um pensamento fundamental para a compreensão do universo: o positivismo. O pensamento positivista trás uma definição certeira sobre o que é ciência, excluindo a influência do pensamento humano sobre a matéria. Ou seja, o mundo natural ocorre sem que precisemos interpretá-lo. A gravidade vai continuar a atrair corpos com massa mesmo que não haja uma definição formal sobre as variáveis de sua fórmula, ou um postulado físico sobre o efeito.
O que essas pseudociências tentam é mesclar o mundo social com o mundo natural, o que pode ser muito capcioso, pois toda a noção de existência que temos reside no mundo social, aquele construído pelas idéias. Se a percepção do mundo, tanto natural como social, reside na nossa mente fica fácil de tentar mesclar esses dois mundos usando noções tortas sobre o que é conhecimento e o que é ciência. As teorias sociais são conhecidas, pela crítica acadêmica, pôr serem teorias de alienação em sua maioria. Essa alienação é responsável pôr misturar a objetividade da realidade com as construções sociais, a fim de promover os interesses de uma classe. Então, no caso de uma pseudo-ciência o que se tem é, na verdade, uma construção social, amparada pôr um conjunto de conceitos unidos com fins escusos. Uma definição de teoria amplamente usada no mundo das ciências naturais é de que uma teoria consiste em “sets of laws bound together through the fact that, from a few high-powered axioms or hypotheses everything else can be shown to follow as a deductive consequence” (um conjunto de leis unidas pelo fato de que, pôr um conjunto consistente de axiomas ou hipóteses, tudo mais poderá ser explicado e demonstrado como uma conseqüência dedutiva). Ou seja, uma hipótese deve ser consistente o suficiente para sustentar e deduzir o comportamento futuro do objeto analisado. Isso significa que uma teoria deve ter sustentação metodológica, de que quando aplicada à realidade sua explicação deve residir naquele conjunto de hipóteses e axiomas previamente definidos. Uma pseudo-ciência não tem tal consistência de argumentos, pois a objetivação da realidade é distorcida pôr uma construção social, um quadro de idéias e princípios, que afetam diretamente a dedução das conseqüências do objeto. A determinação de um comportamento vai depender da sua compreensão sobre um determinado quadro de idéias, sustentado pôr um conjunto de valores que vc atribui á realidade. Se a pessoa tiver valores infundados e coerentes com um pensamento de massas ela é um alvo certo para tais ciências sem aplicação metodológica. Em outras palavras, só acredita quem é trouxa, hehehehe.

Danda

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

eae galera aqui é o gary so dexa o comentario ai que sempre achei essa ciencia " quem somos nós " uma ciencia comercial de certa forma mt atraente. Afinal quem não queria acreditar que podemos mudar a realidade apenas com o pensamento ? ia ser irado mas infelizmente acredito que o universo funcione de forma indiferente e independente do ser humano. E o que mais me incomoda é o fato do quão vago é a ciencia moderna, no livro universo de numa casca de nos o cara me fala q o universo e feito de cordas que vibram e é considerado um genio.. baseado em que ? apenas na sua criatividade. Ciencia pra mim foi feita e bem feita por isaac newton algo logico e que pode ser verificado facilmente. Para não me estender mt fica a minha critica a essa ciencia moderna que acredita em espaços curvos ( relatividade geral ), 11 dimensões ( teoria das p-branas ) e todas essas viagens

Mentefluida disse...

Bem, o charlatanismo expresso nessas pseudociências é evidente. Basta assistir a "O Segredo" e prestar atenção à quanta abobrinha é dita ali. Lei da atração, campos magnéticos e vários outros conceitos científicos são abordados sem nenhum critério ou rigor. Uma total falta de escrúpulos da pessoa que criou o filme, pois se aproveitou de idéias e do crédito científico para vender milhões de cópias do seu horroroso filme e do seu livro. É fato que uma pessoa como essa devia ser desmentida e ter sua imagem triturada em público pela falta de respeito com a ciência, que vem a séculos construindo sua imagem e sua reputação.
Quanto ao comentário do "hugo", eu vou radicalmente contra o que ele diz. O que Isaac Newton diz não é fácil comprovação, apenas parece mais lógico porque a teoria dele se aplica muito bem ao mundo macroscópico que nos é habitual. Não é nada natural o conceito de inércia, afinal eu nunca vi nada que tivesse um movimento contínuo sem que tivéssemos aplicação de força, como prediz a primeira lei de Newton. A relatividade geral e a física quântica tratam de principalmente de mundos que não temos alcance próprio, precisamos de experimentos e equipamentos para interagir com esses mundos, por isso nada nos parece natural. A relatividade geral fala de aglomerados de massa tão grandes que deixariam noso Sol como uma bola de gude. Mas tudo que se diz sobre curvatura do espaço já foi experimentado, inclusive a primeira comprovação das teorias de Einstein foi no Brasil, mais especificamente em Sobral-CE. E para concluir Stephen Hawking seria um gênio apenas por estar vivo, pois a expectativa de vida dele é negativa, ele já foi desenganado por médicos a décadas atrás. Mas além disso ele é considerado um dos maiores cientistas do século XX, estudou buracos negros como nenhum outro cientista e além de ter protagonizado um dos debates mais interessantes sobre a possibilidade de viagem no tempo.

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

fui mal interpretado de leve. O que quis dizer com "facil comprovação" e que as leis newtonianas estao de acordo com leis, eu diria, fundamentais como matéria nao se cria nem destroi. universo euclidiano onde espaços nao se curvam. ( a teoria da relatividade vai contra os conceitos espaciais de euclides. )
E não uma lei, mas um ex-consenso cientifico que dizia q o universo tinha 3 e apenas 3 dimensões. ( p-branas ) Defina dimensão e veja o quao absurdo é um universo com mais de 3.
Enfim oq pra mim limita e ao msm tempo engrandece a ciencia é o fato de ela se apoiar apenas em verdades. Contudo hj cientistas realizam experiencias manipulam resultados e usam disso para lhes ajudar a comprovar uma teoria não valida. Como na minha HUMILDE opinião eistein fez. Qnd se axou sem saida para explicar pq a luz era atraida pelo campo gravitacional do sol audaciosamente supoz q era pq a força gravitacional tinha origem não em um conceito de força mas e sim pq os grandes corpos dotados de muita massa curvavam o espaço ! ! ! q historinha

Esquadrão SS disse...

Link interessante (site também): http://www.duvido.com/?page_id=185

Anônimo disse...

Física quântica não é pra qualquer cérebro não.
Misturar Newton com esses "escritores" que vendem horrores por aí é inaceitável.
Newton é pai da física moderna. Um homem tão a frente de seu tempo que muitas de suas teorias só puderam ser confirmadas no século 20, com a ida do homem ao espaço. Como exemplo, os primeiros experimentos realizados na lua foram justamente para comprovar sua lei gravitacional.
Daqui a pouco vão tá colocando Kepler junto com Paulo Coelho; Da Vinci e o "código da vinci", "bispo Macêdo" e ... ah, deixa prá lá.
Celso

Anônimo disse...

BOA PARTE DA FISICA TEORICA POS-POINCARÉ É TUDO MERDA INDIANA INFILTRADA E PSEUDO-CIENCIA; FOI POR ISSO MESMO KE A FILOSOFIA INDIANA FICOU PARA TRAZ DIANTE DA GREGA; ESSE APEGO A TEOLOGIA ESPECULACIONISTA FILOSOFICA KE GEROU INCONTAVEIS SUB-SEITAS E INCLUSIVE O PROPRIO MONOTEISMO A PARTIR DO ZOROASTRISMO DETURPADO PELOS SEMITAS CUJA ORIGEM É UMA DIVERGENCIA TEOLOGICO-FILOSOFICA DO HINDUISMO..!!